Geotecnogias e Manejo Florestal

DR. Enio Giotto, engenheiro florestal, especialista em georrefenciamento

03/07/2010 09:53

CONSELHO em revista | nº 41

Por Jô Santucci   | Jornalista

 

   Enio Giotto, engenheiro florestal,
especialista em georreferenciamento

 

A agricultura de precisão ganha cada vez mais espaço no meio rural, pois apresenta informa­ções que possibilitam um manejo racional das propriedades. Mestre em engenharia agrícola e doutor em ciências florestais, o professor ti­tular do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal de Santa Maria, Enio Giotto, coordena diversos projetos na área do georreferenciamento. Ele foi o criador do sof­tware Campeiro, um programa desenvolvido no Laboratório de Geomática da UFSM com inúmeras ferramentas de gestão, que podem auxiliar o produtor rural, o técnico e a empre­sa. Diferentemente de outros programas de GPS de aplicação no meio rural, o Sistema CR Campeiro engloba todas as áreas em um úni­co software.
Engenheiro florestal Enio Giotto: “O uso de geotecnologias no RS já é um fato comumhá vários anos”
 

Conselho em Revista – O que é e
qual é a importância do georreferenciamento?

Enio Giotto – O georreferencia­mento é conceituado como um pro­cesso de identificação com localiza­ção geográfica (latitude e longitude), de determinado dado, de um con­junto de informações, da ocorrência de eventos, etc. Para o seu desenvol­vimento se faz uso da tecnologia GPS,
por si só, ou integrada com softwa­res, como os Sistemas de Informações Geográficas. A importância do georreferencia­mento está associada à sua crescente aplicação em diversas áreas do conhe­cimento humano, contribuindo com o desenvolvimento das mesmas, pois a sua utilização agrega informação da localização espacial do evento.

 

CR – Em que atividades e equipa­
mentos o georreferenciamento pode ser
aplicado?

EG – Há várias atividades em que se pode utilizar a tecnologia GPS, com o processo do georreferencia­mento, como o georreferenciamento de Imóveis Rurais, estabelecido pela Lei 10267/2001, que define que, para o registro de um imóvel, os seus mar­cos divisores devem apresentar as coordenadas geográficas determina­das com precisão de milímetro. Nesse caso, são utilizados equipamentos GPS de maior complexidade, deno­minados geodésicos e topográficos,
que se prestam a esta finalidade de geoposicionamento de um ponto dentro do exigido pela lei. Também é muito empregado na defesa sani­tária animal, com georreferencia­mento de unidades de criação de animais. Quando ocorre um evento sanitário, por exemplo um foco de uma doença, podem ser facilmente
identificados os produtores existen­tes a determinadas distâncias do foco, como a legislação sanitária exige. Para essa aplicação, podem­-se utilizar os
equipamentos GPS de navegação, com precisão de 5 a 10 metros, pois o que interessa é a determinação de um ponto que representa toda a uni­dade de criação.
 

CR – Como está o seu uso na área
rural do Rio Grande do Sul? Já é uma
realidade?

EG – O uso de geotecnologias no Estado já é um fato comum há vários anos e vem crescendo na diversidade de suas aplicações, não se resumindo tão somente a medição de áreas rurais georreferenciadas, como foi no iní­cio. Hoje, o interesse se foca na inte­gração de bancos de dados com a informação espacial, como em cadas­tros multifinalitários urbanos e rurais. A agricultura de precisão é um exem­plo do uso dessa tecnologia no meio rural, pois cada vez mais são obser­vados produtores fazendo mapea­mentos de colheita, mapeamentos de fertilidade, aplicação de insumos a taxas variáveis, e tudo isto é feito com
o emprego de GPS e Sistemas de Infor­mações Geográficas.
 

CR – Essa tecnologia pode ser usada
também nas pequenas áreas rurais?
EG – O emprego da tecnologia é indistinto. No caso de pequenas pro­priedades rurais, podem­-se utilizar equipamentos GPS para as mais dife­rentes finalidades, desde mapeamen­to de áreas de cultivo, pomares, pon­tos de interesse ambiental, localização de benfeitorias, etc. Sempre se con­siderando o nível de precisão do equi­pamento utilizado.

CR – Quais são os principais                                                                                                                                                                                            bene­fícios para a área rural a utilização das
ferramentas do georreferenciamento
diante da agricultura convencional?

EG – O GPS, seja o topográfico ou o mais simples de navegação, é na atualidade uma ferramenta indis­pensável nas mais diversas ativida­des agrícolas, lorestais e pastoris. Seja na medição de lavouras, talhões e potreiros; na locação de pontos de amostragem de solo; de parcelas de  inventários  florestais; no seu emprego na aplicação de insumos localizada; na orientação de linhas de percurso de tratores, com apa­relhos denominados de barra de luzes e na colheita de grãos. Para cada aplicação no meio rural, existe um tipo de aparelho GPS recomen­dado, bem como o tipo de software aplicativo que se deva utilizar.
 

CR – O senhor desenvolveu um soft­ware de gerenciamento rural na

Uni­versidade Federal de Santa Maria? Co­mo surgiu essa iniciativa?
EG – O Sistema CR Campeiro sur­giu como um produto de nossa ati­vidade de pesquisa na área de enge­nharia de software, que visava o desenvolvimento de soluções técni­cas de informática para o meio rural, cas de informática para o meio rural, de baixo custo e de fácil assimilação pela comunidade técnica e acadêmica relacionada. Entendíamos existir uma lacuna entre os softwares existentes na época, e seu processo de utiliza­ção por parte de nossos alunos em
suas atividades didáticas. Assim come­çamos a desenvolver rotinas com o propósito didático de mostrar em aula os mecanismos da gestão rural, da
topografia e do geoprocessamento em ambiente informatizado.

 

CR – O que é e como funciona este
programa?
EG – O Sistema CR Campeiro é hoje o resultado de um projeto de extensão do Centro de Ciências Rurais da UFSM e consiste em um programa de Gestão Rural, com o objetivo de informatizar a administração de uma propriedade rural, abrangendo a ges­tão técnica de rebanhos (gado de corte e leite, suínos e aves) e de lavouras, com sistemas especialistas de apoio, como a agricultura de precisão, a nutrição animal, o geoprocessamento, a topografia, o inventário florestal
entre outros.

 

CR – Quais são as principais van­
tagens deste programa em relação a
outros existentes no mercado?
EG – É difícil citar a vantagens, ou mesmo desvantagens, porque cada software tem suas peculiaridades e definições de abrangência e aplica­ções. Portanto, não cabe comparações entre os mesmos. O que se pode dizer é que o Sistema CR Campeiro tem como característica principal a abran­gência de diversas funções relaciona­  das à área rural em um único progra­ma, enquanto os programas disponí­veis no mercado normalmente são relativos a uma única área. Por exem­plo, na área de topografia existem vários softwares, da mesma forma na área de geoprocessamento, assim como na área de nutrição animal, na
administração rural, e assim por dian­te, enquanto o Campeiro engloba todas essas áreas em um único software.

 

CR – É de fácil utilização? Como
pode ser adquirido?
EG – O CR Campeiro é um sis­tema com visão acadêmica e se des­tina primordialmente à capacitação de alunos da área rural, nos aspectos técnicos de suas aplicações, e isto se dá mediante sua utilização em aulas práticas, projetos de pesquisa e exten­são ou em cursos e seminários de transferências de tecnologia que pro­movemos periodicamente no âmbito de nossa universidade, e em outras instituições de ensino superior e de nível médio profissionalizante. Entre­
tanto, também pode ser disponibili­zado individualmente, para profis­sionais técnicos da área rural, pro­dutores  rurais e agroindústrias, mediante cursos de  treinamento (extensão) junto ao Laboratório de Geomática do Departamento de Enge­nharia Rural (CCR/UFSM).

 

CR – O georreferenciamento já faz
parte dos currículos das escolas de
agronomia?
EG – Para o desenvolvimento de atividades técnicas de georreferen­ciamento, como o uso de GPS topo­gráficos e geodésicos, ou o georrefe­renciamento de amostras de solo para a elaboração de mapas de atributos físicos, químicos e biológicos deste solo, é necessário que o técnico tenha conhecimento de diversas disciplinas da área da geomática, entre as quais a topografia, a geodésia e a cartogra­fia, que isoladas ou de forma combi­nada já são ministradas hoje nos cur­sos de Agronomia do Brasil, propor­cionando que os acadêmicos dessa área tenham a respectiva atribuição profissional, para o exercício pleno
dessa atividade.

 

“Hoje, o interesse pelo uso de geotecnologias

está focado na integração de bancos de dados

com a informação espacial, como em

cadastros multifinalitários urbanos e rurais”

 

MAIS INFORMAçÕES
www.ufsm.br/geomatica
giotto@smail.ufsm.br

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